A importância da cultura no processo de aprendizagem
Por: Jididias Rodrigues da Silva
RESUMO
O objetivo deste estudo é averiguar através de pesquisa bibliográfica e de campo a importância da cultura no processo de ensino-aprendizagem. Sabemos que a cultura é um componente ativo na vida do ser humano, e que não existe individuo no mundo que não possua uma cultura, pois cada um de nós somos criadores e propagadores de diversas culturas; esta pesquisa busca em sua abordagem focalizar a importância da cultura na escola. Ressalta também as dificuldades enfrentadas pelos professores ao lidar com as manifestações culturais no ato de aprender, bem como os métodos que o educador utiliza para contornar essas situações.
Este estudo em um primeiro momento caracteriza-se por uma pesquisa de cunho bibliográfico, onde a autora busca saber as mais diversas considerações de autores que discutem a temática pesquisada. Para a concretização da pesquisa se fará uso da pesquisa de campo quando serão entrevistados professores que convivem diretamente com essa realidade. A pesquisa de campo efetivar-se-á por meio de questionários e entrevistas, e os resultados obtidos serão analisados a partir do referencial teórico. Palavras- chave: cultura, ensino-aprendizagem, currículo multicultural.
INTRODUÇÃO
Durante as ultimas décadas vem se discutindo a incorporação da cultura no processo de ensino-aprendizagem, alguns educadores e movimentos sociais, lutam para que suas culturas sejam legitimadas como essências e co-participante no processo de ensino, com relação à temática BOURDIEU afirma que "a cultura é o conteúdo substancial da educação, sua fonte e sua justificação última [...] uma não pode ser pensada sem a outra", embasados na idéia de que a cultura é um elemento que nutre todo o processo educacional e que tem um papel de suma importância na formação de um individuo critico e socializado esses movimento reivindicam a inclusão da cultura no currículo escolar.
O reconhecimento da multiculturalidade da sociedade leva a constatação da diversidade de raízes culturais que fazem parte de um contexto educativo como uma sala de aula. Nesse sentido, autores como Candau (2000; 2002), Forquin (1993), entre outros autores, que enfatizam a relação existente entre escola e cultura, nos instiga a buscar uma melhor compreensão acerca da importância da cultura no processo de aprendizagem e nas práticas pedagógicas.
Deste modo uma educação multicultural tem despertado uma série de discussões entre os mais conceituados autores e pesquisadores. Que buscam questionar a incorporação de pressupostos curriculares cooperativos para que assim o ambiente escolar se torne favorável aos alunos de todos os grupos sociais, étnicos e culturais.
A escola é defendida como uma entidade socializadora que deve incorporar as diversas culturas, afim de que haja um ambiente sociável onde todos possam manifestar seus ideais sem medo de serem tachados como antiéticos e serem discriminados pela cultura que estes manifestam ou pertencem.
Neste contexto, após uma análise da discussão, pôde-se constatar que existem opiniões diversas a respeito da incorporação da cultura no processo de aprendizagem, alguns educadores relutam em usar a cultura como conteúdos em suas aulas, surgem então alguns questionamentos a serem respondidos entre os quais: a cultura é mesmo importante no processo de aprendizagem? O que ela tem a oferecer neste processo de conhecimento?
Os educadores consideram a cultura como aliada no processo de aprendizagem? Este artigo tem como objetivo, verificar a importância que a cultura tem no processo de ensino aprendizagem, averiguar os pontos positivos que a cultura tem a oferecer a ao processo educacional, e conscientizar educadores e educandos da importância da cultura no processo de aprendizagem.
Num primeiro momento o artigo fundamenta-se em uma pesquisa bibliográfica destinada a focalizar as considerações sobre a importância da cultura no processo de ensino-aprendizagem que antecede a investigação de campo que esta sendo realizada em uma escola de ensino fundamental com professores das disciplinas relacionadas ao tema que posteriormente fornecerá dados para formulação de uma compreensão do problema proposto.
A RELAÇÃO CULTURA E EDUCAÇÃO
A cultura faz parte do nosso intimo, somos criadores e propagadores da cultura, de forma que a manifestamos de diversas maneiras.Mas o que é cultura e qual a sua relação com a educação? Candau (2003) afirma que cultura é um fenômeno plural, multiforme que não é estático, mas que está em constante transformação, envolvendo um processo de criar e recriar. Ou seja, a cultura é por sua vez um componente ativo na vida do ser humano e manifesta-se nos atos mais corriqueiros da conduta do indivíduo e, não há individuo que não possua cultura, pelo contrário cada um é criador e propagador de cultura.
Darcy Ribeiro (1972): afirma que: "[...] cultura é a herança social de uma comunidade humana, representada pelo acervo co-participado de modos padronizados de adaptação à natureza para o provimento da subsistência, de normas e instituições reguladoras das reações sociais e de corpos de saber, de valores e de crenças com que explicam sua experiência, exprimem sua criatividade artística e se motivam para ação".
Darcy Ribeiro converge na idéia de que embora a cultura seja um produto da ação humana ela é regulada pelas instituições de modo que se lapida a idéia a ser manifestada segundo os interesses ou valores de crenças de determinado grupo social,a cultura para Darcy também é uma herança que se resume em um conjunto de saberes que são perpassados através das gerações,saberes estes manifestados e experimentados pelo ancestrais.
Quando se trata de cultura e educação, podemos dizer que são estes fenômenos intrinsecamente ligados, a cultura e a educação, juntas tornam-se elementos socializadores, capazes de modificar a forma de pensar dos educandos e dos educadores; quando adotamos a cultura como uma aliada no processo de ensino-aprendizagem estamos permitindo que cada individuo que freqüenta o ambiente escolar se sinta participante do processo educacional,pois ele nota que seu modo de ser e vestir não é mas visto como "antiético" ou "imoral",mas sim uma forma de este se socializar com os demais colegas, alguns autores defendem a idéia de a educação não pode sobreviver sem a cultura e nem a cultura sem a educação. Candau (2003, pag.160) afirma que: "A escola é, sem dúvida, uma instituição cultural.
Portanto, as relações entre escola e cultura não podem ser concebidas como entre dois pólos independentes, mas sim como universos entrelaçados, como uma teia tecida no cotidiano e com fios e nós profundamente articulados."
Para Vera Candau as escolas além de ser uma instituição educacional, ela também é uma instituição cultural, onde dentro delas estão inseridos diversos grupos sociais que não devem ser ignorados pelos educadores muito menos pela escola, mas sim valorizados, através de discussões e feiras, para que as culturas não tradicionais possam ser conhecido e reconhecidos quanto a suas ideologias e formas de ser.
Trindade (2003) apud Ferreira (2005 pag.1 ) converge nesta posição: . "[...] A questão que se coloca é a importância de se entender a relação cultura e educação.
De um lado está à educação e do outro a idéia de cultura como lugar, a fonte de que se nutre o processo educacional para formar pessoas, para formar consciência". Para Trindade a cultura tem um importante papel no processo de aprendizagem, pois é ela é que nutre todo processo educacional, na missão de forma individuo crítico e conhecedor de sua origem cultural, daí a necessidade de se discutir as culturas diversas na sala de aula.
Embora a escola seja palco dessas multiculturalidade ela vem encontrando várias dificuldades em interagir suas práticas educativas mais comuns com a diversidade cultural vivenciada pelos alunos, isso por que os conteúdos selecionados e trabalhados pela escola não tem nenhuma relação com o universo cultural ou com essa multiculturalidade vivenciada pelos educandos,a cultura que os alunos conhecem são apenas os folclores ou seja a cultura chamada tradicional,não se discute a cultura existe na sala de aula,apenas dá-se ênfase as culturas distantes da realidade do aluno.
Diante dessa problemática Candau e Anhorn (2000, p.2) afirmam que "hoje se faz cada vez mais urgente a incorporação da dimensão cultural na prática pedagógica". Candau defende uma abordagem pedagógica pautada numa perspectiva de educação multicultural, ou seja, dever-se-ia incluir essa discussão no currículo escolar e por certo nos projetos da escola.
A escola deveria seguir o papel de intermediador entre as diferentes culturas jovens, permitindo o debate entre elas e por certo a valorização delas através dos eventos escolares ou outros meios pedagógicos.
Candau e Anhorn (2000) afirmam que: "[...] um currículo multicultural coloca aos professores o desafio de encontrar estratégias e recursos didáticos para que os conteúdos advindos de variadas culturas sejam utilizados como veículo para: introduzir ou exemplificar conceitos relativos a uma ou outra disciplina; ajudar os alunos a compreender e investigar como os referenciais teóricos de sua disciplina implicam na construção de determinados conhecimentos; facilitar o aproveitamento dos alunos pertencentes a diferentes grupos sociais; estimular a auto-estima de grupos sociais minoritários ou excluídos; educar para o respeito ao plural, ao diferente, para o exercício da democracia, enfatizando ações e discursos que problematizem e enfraqueçam manifestações racistas, discriminatórias, opressoras e autoritárias, existentes em nossa nossas práticas sociais cotidianas".
A partir disso, pode-se concluir que a inclusão de currículo multicultural no ambiente escolar, não só possibilita o conhecimento de outras culturas, mas também auxilia no processo de ensino-aprendizagem na medida em que os professores utilizem da cultura dos alunos em suas aulas e em projetos da escola,quando há essa interação e interesse do professor em conhecer e por certo valorizar as demais culturas ocorre o processo de socialização,onde cada cultura passa a ser entendida e vista não mas com um olhar pejorativo, proporcionando a partir daí um ambiente escolar, mas agradável e por certo uma nova perspectiva na forma de aprender.
Embora seja defendida essa aliança entre educação e cultura não se deve esquecer o professor neste processo, deve ser analisado se este está preparado para lidar com essa multicultulidade do ambiente escolar com relação ao fato Candau (2003, pag. 157) afirma "Será necessário que o docente se disponha e se capacite a reformular o currículo e a prática docente com base nas perspectivas, necessidades e identidades de classes e grupos subalternizados".
E certo que a construção de um novo currículo com base essa multiculturalidade não será tarefa fácil para o professor, pois isto requererá uma nova postura, novos saberes, novos objetivos, novas estratégias e por certos novos assuntos.
É possível sim a incorporação da cultura no processo de aprendizagem,mas desde que haja meios,idéias e preparo do corpo docente para lidar com este novo desafio.
METODOLOGIA
A metodologia adotada para este trabalho foi inicialmente uma pesquisa bibliográfica, na qual fichou-se alguns autores que defendem a importância da cultura no processo de ensino aprendizagem,foi feita também uma pesquisa de campo com professores da rede local de ensino através de um questionário com perguntas abertas.
RESULTADO E DISCUSSÕES
Após a realização da pesquisa de campo foi feita a triagem dos dados onde constatou-se que 80 % dos entrevistados acreditam que a cultura tem um importante papel no processo de aprendizagem e 20 % acreditam que cultura e educação são duas vertentes que devem ser tratados de forma diferentes e que não se deve integrá-la no processo de ensino-aprendizagem.
A cultura sem dúvida deve estar presente no ambiente escolar, pois ela também faz parte do processo de ensino aprendizagem, ela nutre, socializa e fornece idéias para um aprendizado, mas eficiente, como afirma Vygotsky. "A cultura cria formas especiais de comportamento, muda o funcionamento da mente, constrói andares novos no sistema de desenvolvimento do comportamento humano...
No curso do desenvolvimento histórico, os seres humanos sociais mudam os modos e os meios de seu comportamento, transformam suas premissas naturais e funções, elaboram e criam novas formas de comportamento, especificamente culturais" (Vygotsky, apud WERTSCH E TULVISTE, 2001 p. 73). Quanto à forma de como a cultura deve ser inserida no ambiente escolar, 60 % acreditam que esta deve vim integrada no currículo escolar oficial e 40% acreditam que está deve ser implementada através do olhar cultural de cada professor.
Entre os entrevistados 80% acredita que para que se possa inserir a cultura do aluno no processo de aprendizagem deve-se antes capacitar o professor e 20 % acreditam que já está preparado para esse novo desafio.
Acredita-se que a maioria dos professores da rede municipal ainda não tem uma formação acadêmica,por isso faz-se necessário o investimento na qualificação deste professores,para que assim possam desenvolver as atividades de forma mas proveitosa,a conscientização de que a cultura deve esta interligada ao educação deve ser amadurecida no processo de formação do professor.
Alguns reconhecem a necessidade de construir conhecimento a base da cultura e educação mas também que refletem que precisam se preparar para este novo desafio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme exposto podemos considerar que a cultura tem um importante papel no processo de aprendizagem, pois ela permite não só a socialização, mas discussão de diferentes saberes no ambiente escolar, através do conteúdo cultural podemos exemplificar vários temas,nas diferentes disciplinas do currículo escolar.O ensino cultural tem esse poder de integrar os diferentes saberes e levá-los a discussão em sala de aula,mas para que isso ocorra faz-se necessário a capacitação do professor para que este possa ter um novo olhar sobre a cultura na sala de aula. Sabemos que é papel da escola socializar o conhecimento, mas também é dever desta atentar para as manifestações culturais como uma forma de ensinar e socializar os educandos. Compreende-se a cultura como um elemento que nutre o processo de ensino aprendizagem, pois ela nos fornece vários meios a ser discutidos em sala de aula. Para melhorar faz-se necessário desfazer o caráter excludente de algumas escolas e do currículo tradicional, que reproduzem as desigualdades sociais ao trabalhar com padrões culturais distantes das realidades dos alunos. Candau (2003) afirmar que: "[...] Para todos (as),uma ação docente multiculturalmente orientada, que enfrente os desafios provocados pela diversidade cultural na sociedade e nas salas de aulas, requer uma postura que supere o "daltonismo cultural" usualmente presente nas escolas, responsável pela desconsideração do "arco-íris de culturas" com que se precisa trabalhar. Requer uma perspectiva que valorize e leve em conta a riqueza decorrente da existência de diferentes culturas no espaço escolar". Para que haja uma parceria entre a cultura e a educação faz-se necessário deixar de lado alguns estereótipos ainda vagando na mente de alguns educadores e alunos, na qual legitimam como cultura apenas as festa popularmente conhecidas e data comemorativas tradicionais, urge a necessidade de se olhar as demais culturas como uma fonte de riqueza que pode auxiliar no processo de ensino - aprendizagem, mas para que haja essa integração entre a cultura e educação faz-se necessário a criação de novas metodologias para que o professor possa trabalhar de forma adequada. Ainda urge a necessidade de investir na formação do professor,conforme constado nesta pesquisa, a maioria dos professores reconhecem a necessidade de obter um formação adequada para que este possam trabalhar as temáticas proposta de forma proveitosa. Conclui-se que a cultura é o elemento essencial no processo de ensino-aprendizagem e que a escola deve incorporar em seu contexto e, portanto esta deve ser inserida nos currículos escolares, nos projetos e outras atividades pedagógicas, para que haja a socialização do discente e docente e que as demais culturas também possam ter seu espaço no ambiente escolar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996.
CANDAU, Vera Maria Ferrão - Educação escola e Cultura(s): construindo caminhos. Revista Brasileira de Educação, 2003.
CANDAU, Vera Maria Ferrão - Sociedade, cotidiano escolar e cultura(s): uma aproximação. Educ. Soc., 79: 125-161, 2002.
FERREIRA, Nilza Brandolfo, A relação Cultura e Educação. Projeto apresentado no curso de Pós-Graduação Lato Sensu: Psicopedagogia Clínica e Educacional a UNESP.São Paulo,2005
*Jeiele P. Rodrigues da Silva
*Jididias Rodrigues da Silva
*Jididias Rodrigues da Silva
Fonte:http://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/a-importancia-cultura-no-processo-aprendizagem.htm
Diálogos entre cultura e educação na escola-Diretora do Cenpec discute os caminhos para unir educação e cultura
18/09/2009
18/09/2009
Quando se pensa na
relação entre cultura e educação que se estabelece dentro da escola, existem,
pelo menos, três aspectos essenciais que requerem reflexão. O primeiro -- e
importante ponto de partida -- refere-se à relação da escola com a cultura do
lugar onde ela está situada. Se partirmos do principio de que o lugar é um
espaço vivo, carregado de memórias e significações, a abertura à comunidade é
fundamental e permite que alunos e suas famílias se enxerguem em seu
território, nutram o sentimento de pertencimento, de enraizamento e se sintam
reconhecidos no conhecimento que a escola produz e transmite a seus estudantes.
Isso independe de datas comemorativas. Consiste sim em uma ampliação do sentido
cultural, sem reduzi-lo a "folclorização" de manifestações presentes
no dia-a-dia das comunidades.
É fundamental que a
escola -- um equipamento de enorme impacto na vida das crianças e dos jovens
--- construa uma ponte entre o conhecimento estabelecido, o patrimônio cultural
da humanidade, e aquele conhecimento cultural que está ali presente, circulando
na localidade. Espera-se que a escola consiga articular esse patrimônio com a
cultura das pessoas que vivem no seu entorno e que a freqüentam.
À medida que também
propicia a relação entre os saberes do passado e do presente do território onde
se situa, e todo um conhecimento globalizado que está circulando na nossa
sociedade contemporânea, a escola permite que os alunos e suas famílias não só
nutram o pertencimento temporal a este momento histórico, como reconheçam o seu
papel como sujeitos históricos naquele lugar.
Um segundo ponto a
ser considerado na relação educação e cultura é o currículo escolar, isto é, a
seleção dos saberes que os educadores transmitirão. A escola tem o poder e a
legitimidade para selecionar os saberes que serão passados às crianças e aos
adolescentes e pode dar voz ou não a determinados personagens, histórias locais
e patrimônios culturais e transmitir ou não diferentes modos de saber e de
fazer instalados na sociedade como um todo.
Desse modo, se a
escola for capaz de valorizar em sua grade curricular o patrimônio cultural
presente na comunidade, nos diferentes grupos sociais, etnias e representações,
e não apenas na história oficial, ela desempenhará, sem dúvida, um papel
diferenciado. Sua contribuição será ainda maior se renunciar ao uso de
abordagens "folclorizadas" ou "pitorescas" da cultura
popular, que a tratam como ?sub-cultura?, e, muitas vezes, reforçam estigmas e
deixam determinadas manifestações populares à margem de uma proposta de
ampliação de repertório. Assim, ao ampliar o conhecimento das manifestações dos
diversos grupos sociais, a escola colaborará para que diferentes grupos se
sintam não só reconhecidos, mas também sujeitos desse conhecimento que lhe está
sendo ofertado.
Vale dizer que,
embora a escola seja o local privilegiado da apropriação do conhecimento, ela
não é o único na sociedade. Em grandes cidades, como São Paulo, temos vários
locais de acesso a conhecimento. Existe, ainda, todo o conhecimento que pode
vir por meio da internet e de todas as tecnologias hoje disponíveis, assim como
de equipamentos e projetos culturais conduzidos por organizações não
governamentais.
Nesse contexto, um
terceiro caminho para aproximar educação e cultura pressupõe a articulação da
escola com esses vários locais de conhecimento, equipamentos e projetos de
cultura, de forma que esta aliança traga um impacto positivo efetivo na
aprendizagem das crianças e dos adolescentes.
Hoje, no Brasil, há
projetos conduzidos por inúmeras ONGs que são belíssimos e muito importantes no
sentido de levar a crianças e jovens alternativas à indústria cultural e à
grande mídia e de ampliar seu universo, por meio do resgate de tradições
culturais que eles ouviram em suas casas ou que eles próprios vivenciaram, nos
campos das artes plásticas, literatura, comunicação, teatro e música.
Além disso, dezenas
de projetos dessas organizações no país já trabalham com um conceito de cultura
mais ampliado, ou seja, não uma cultura vista apenas como evento cultural, e
sim relacionada com cidadania, sustentabilidade, patrimônio cultural e outros
campos.
Esses projetos
podem também atuar com as escolas, inserindo as suas especificidades, de
música, teatro ou outros campos, por exemplo, a questão do letramento. Em
termos práticos, a idéia é que o letramento seja um eixo central nos projetos
culturais, totalmente integrado às atividades e dinâmicas, seja na letra da
música, no texto do teatro, na instrução para construir um instrumento.
A abertura da
escola à cultura de seu território, a escolha de uma grade curricular que
valorize a pluralidade e a diversidade cultural local e o intercâmbio da escola
com produções e produtores de cultura na sociedade são alguns caminhos para
unir educação e cultura. Os desafios, contudo, são muitos e continuam postos, e
cabe aos educadores e à sociedade engendrar novas aproximações possíveis.
Maria Alice
Setubal, 58 anos, é socióloga, mestre em Ciências Políticas pela USP e doutora
em Psicologia da Educação pela PUC-SP, presidente da Fundação Tide Setubal e
diretora-presidente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e
Ação Comunitária (Cenpec), onde atua há mais de 20 anos. Foi consultora do
Unicef na área educacional para a América Latina e o Caribe.
Fonte: Educar para
Crescer
Escola e cultura(s): repercussões e
possibilidades
para uma prática pedagógica intercultural |
|||
Licenciada em Educação Física. Universidade do Oeste de Santa Catarina, SC. Especializanda Educação Física Escolar. |
Andréia Paula Basei andreiabasei@yahoo.com.br (Brasil) |
||
Resumo O presente estudo teve como objetivo refletir sobre a escola enquanto um espaço permeado pela diversidade cultural e nesse espaço, as repercussões desse cruzamento de culturas e as possibilidades de se desenvolver uma prática pedagógica visando entender e atender as diferentes necessidades a partir de uma perspectiva intercultural. A educação escolar ao contrário do observamos atualmente, não pode se limitar a transmitir os conhecimentos disponíveis em um dado momento, visando justificar a ideologia dominante em detrimento as classes populares e grupos culturalmente marginalizados. Por isso, defendemos que a educação deve pautar-se por uma perspectiva intercultural. Unitermos: Educação Física escolar. Prática pedagógica. Educação Intercultural. Cultura de movimento. |
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires
- Año 12 - N° 111 - Agosto de 2007
|
|||
1 / 1
Introdução
Vivemos em um mundo
globalizado, mas altamente diversificado culturalmente. Este fato apresenta-se
como um desafio para a sociedade atual, pois as grandes transformações
ocorridas estão a toda hora desafiando os cidadãos a uma nova situação de vida,
atingindo diretamente as tradições mais cristalizadas de nossa sociedade. Isso
provoca um processo de desenvolvimento social que, na maioria das vezes, é
carente de uma reflexão crítica, pois os sujeitos encontram-se subordinados a
uma macroestrutura de mercado que os impõe determinados 'produtos' e concepções
impostos pela cultural hegemônica.
Esta situação determinou, e
esta determinando, as transformações e revoluções da humanidade, em alguns
casos com mais intensidade que outros. Sendo assim, é necessário refletirmos
sobre o momento histórico pelo qual estamos passando, onde não é mais possível
tratar de fatos isolados, de contextos fechados, mas há que se considerar toda
a complexidade que se criou como resultado de uma construção histórico-cultural
do homem em seu contexto, da existência do ser-no-mundo.
Neste sentido, acreditamos
que a escola é de fundamental importância, visto que, ela pode desenvolver em
seus alunos, esta capacidade de análise e reflexão crítica. Para isso, a escola
deve ser compreendida como integrante do processo de formação do cidadão e da
sociedade e não apenas, como uma mera reprodutora de conhecimentos, mas como
uma produtora de conhecimentos comprometida socialmente.
No entanto, o que
observamos em nossa realidade, muitas vezes, é uma escola que ainda está
esperando que digam qual o caminho a seguir, o que ensinar e qual projeto
cultural e social a ser desenvolvido. Assim, acreditamos que é de fundamental
importância nas discussões e práticas educacionais a ampliação e radicalização
das questões culturais, onde percebemos um forte componente de intervenção e
transformação de situações características em nossa sociedade, tais como: a
injustiça social, a exclusão, racismo, entre outras.
Dentro desse contexto, o
presente estudo teve como objetivo refletir sobre a escola enquanto um espaço
permeado pela diversidade cultural e nesse espaço, as repercussões desse
cruzamento de culturas e as possibilidades de se desenvolver uma prática
pedagógica visando entender e atender as diferentes necessidades a partir de
uma perspectiva intercultural.
Escola como um espaço de cruzamento de cultura(s)
Diante da complexidade que
se estabelece ao relacionarmos educação/escola e cultura(s), o debate que deve
nortear essa preocupação é como deve se dar essa relação, sob quais
orientações. Para isso, acreditamos na necessidade de pontuar algumas concepções
que servem de sustentação para nossa reflexão.
Num primeiro momento,
buscamos uma fundamentação de cultura trazendo as contribuições de Pérez Gómez
(2001, p. 17), ao escrever que assume
[...] cultura como o conjunto de significados,
expectativas e comportamentos compartilhados por um determinado grupo social, o
qual facilita e ordena, limita e potencia os intercâmbios sociais, as produções
simbólicas e materiais e as realizações individuais e coletivas dentro de um
marco espacial e temporal determinado. A cultura, portanto, é o resultado da
construção social, contingente às condições materiais, sociais e espirituais
que dominam um espaço e um tempo.
O conceito de cultura,
portanto, denota um padrão de significados transmitidos historicamente, incorporado
em símbolos. Sendo assim, acreditamos que conforme aponta Candau (2002) o
grande desafio sobre a questão cultural é lidar com a diversidade, com a
multiplicidade de tendências em relação a questão da(s) cultura(s).
Nesse sentido, percebemos
que a escola seria um espaço importante para as discussões que envolvem tal
questão e suas representações na sociedade. Contudo, da forma como a escola
está organizada difundindo, pelo que observamos na maior parte das realidades
educacionais, um projeto cultural dominante, imposto, este espaço encontra-se
fechado. Para tanto, concordamos com Pérez Gómez (2001, p.17) ao afirmar que, é
necessário que se passe a
[...] considerar a escola como um espaço ecológico
de cruzamento de culturas, cuja responsabilidade específica, [...] é a mediação
reflexiva daqueles influxos plurais que as diferentes culturas exercem de forma
permanente sobre as novas gerações.
Partindo dessa compreensão,
a educação escolar ao contrário do observamos atualmente, não pode se limitar a
transmitir os conhecimentos disponíveis em um dado momento e o pior, visando
justificar a ideologia dominante em detrimento as classes populares e grupos
culturalmente marginalizados. Por isso, defendemos que a educação deve
pautar-se por uma perspectiva intercultural. É importante salientar que existem
outros termos usados para se definir tal perspectiva, tais como
multiculturalismo, multiculturalismo crítico e o próprio interculturalismo, o
qual definimos como termo a ser utilizado, por compartilhar da idéia dos
autores que o utilizam e que conforme eles proporciona uma maior comodidade
léxica.
A perspectiva intercultural
surge em contraposição a visão essencialista e reducionista proposta pelo
monoculturalismo e multiculturalismo. Segundo Forquin (1993), enquanto o
multiculturalismo se satisfaz com uma composição cultural mosaica, o
interculturalismo define a diferença como uma relação dinâmica entre duas
entidades que se dão mutuamente um sentido.
De acordo com Fleuri
(1999), a estratégia intercultural consiste antes de tudo em promover a relação
entre as pessoas, enquanto membros de sociedades históricas e culturalmente
muito diversificadas. Através desse contato dialógico, é possível a construção
de cidadãos emancipados e de uma sociedade democrática, mais justa e
igualitária em sua diversidade.
Sob esta perspectiva,
acreditamos que o objetivo da escola, está relacionado com as idéias
apresentadas na visão gramsciana, onde é necessário que nela,
[...] seja dada a criança a possibilidade de formar-se,
de tornar-se um homem, de adquirir os critérios gerais que sirvam ao
desenvolvimento do caráter. Uma escola que não hipoteque o futuro da criança e
constranja a sua vontade, sua inteligência, sua consciência em formação a
mover-se dentro de uma bitola. Uma escola de liberdade e de livre iniciativa e
não uma escola de escravidão e mecanicidade (GRAMSCI
apud BARBOSA, 2001, p. 23).
Princípios norteadores da prática educativa em direção a educação intercultural e a emancipação humana
Uma das condições
fundamentais para práticas educativas interculturais e para a promoção da
emancipação humana é a necessidade de uma reestruturação cultural das formas de
agir, sentir e pensar o mundo, e portanto, a educação. No entanto, essa
reestruturação, de nada servirá se não implementarmos mudanças em aspectos
culturais enraizados em nossas escolas. Uma unidade dialética deverá ser a base
das estruturas de pensamento para as ações que se desenvolvem no âmbito
escolar, relacionando teoria e prática, objetividade e subjetividade, o local e
o global.
Nesse sentido, consideramos
as idéias pedagógicas de Freire (1983) e sua visão de liberdade. Para ele, a
liberdade é a matriz que dá sentido à prática educativa, que só pode ser
efetiva e eficaz à medida que haja a participação livre e crítica dos
educandos. Educar significa, ser uma crítica à opressão real, na qual os homens
vivem, e, ao mesmo tempo, uma expressão de luta por sua libertação. O
aprendizado aqui é visto como um modo de tomar consciência do real e só pode
acontecer dentro dessa tomada de consciência. Dessa forma, a prática educativa
é uma prática social porque é uma atividade humana distinta do comportamento
espontâneo, e a teoria pedagógica compreende que,a educação, inserida num
projeto histórico-social da emancipação humana, tem por tarefa desenvolver
competências para o Agir (conhecimentos, habilidades, estruturas de pensamento
e condições de lidar com afetividade, capacidades de fazer), de forma a
propiciar aos indivíduos recursos para participarem da vida social.
Sendo assim, acreditamos na
necessidade de desenvolvermos nos educandos as competências sociais necessárias
para emancipar os sujeitos, levando em conta a diversidade na qual estão
inseridos. Para isso, apontamos a seguir alguns princípios e eixos norteadores
para as práticas educativas, não como um modelo a ser seguido, uma receita
pronta que emprega perspectivas didáticas infalíveis e inquestionáveis para
solucionar problemas, mas como uma proposta para o desenvolvimento das competências
sociais1 necessárias para
emancipar os sujeitos e promover diálogos que façam surgir novas sugestões.
Um dos princípios que
adotamos é a consideração dos sujeitos como o eixo principal, ou seja, tudo
gira em torno dos sujeitos, sejam eles professores, alunos ou pessoas da
comunidade externa, todos são considerados sujeitos históricos, culturais e
sociais que convivem em um determinado contexto e possuem as representações
simbólicas deste meio que criaram, do qual usufruem e modificam suas ações, modelando
sua identidade.
Considerando que cada
sujeito é portador de uma identidade, que regula suas ações, vamos ao encontro
de outro princípio que deve ser adotado: cada sujeito deve ter o direito de
expressar-se e expressar os conteúdos próprios de cultura. Este é um ponto
interessante, haja visto que o fato de uma proposta intercultural não se trata,
conforme nos afirma Jordan (1996 apud CANDAU, 1998, p. 56-57), simplesmente de
trazer determinadas atividades, eventualmente para dentro da escola, mas sim,
de deixar que essas atividades apareçam durante a aula, e os "donos"
da idéia possam se expressar livremente.
E ainda, outro princípio
que se propõe é que a estrutura curricular, a divisão dos conteúdos deve ser
considerada em sua totalidade, entendida como um todo organizado de modo a
distribuir os conteúdos buscando integrar os aspectos sócio-culturais às
expectativas dos alunos. Sendo assim, os conteúdos trabalhados devem atender as
necessidades dos alunos, de modo a não tornarem-se abstratos, pois mesmo
buscando uma educação intercultural estes conteúdos devem estar relacionados
com as vivências e conhecimentos que os alunos tem destes e da realidade que
observam fora do ambiente escolar.
A fundamentação desta
proposta com estes princípios aparecem, para nós vinculados a alguns eixos
norteadores. Sendo assim, o primeiro a considerar-mos é que não existe
superioridade cultural, mas sim, diversidade cultural. Através do
reconhecimento dessa diversidade que forma um todo organizado, será possível a
compreensão das diferenças dentro da aula, como por exemplo, o entendimento dos
motivos que unem esses sujeitos, essas culturas, em torno dos esportes
normatizados e faz deles esse grande espetáculo no mundo todo.
Outro eixo norteador é o
fato de todas as culturas possuírem sua escala de valores, ou seja, o que pode
ser extremamente significativo para alguns, para outros não tem sentido, como
no caso da dança, por exemplo, a qual está perdendo cada vez mais seu espaço em
nossa região, já em outros lugares, é considerada um espetáculo comparado ao
futebol. Partindo desse entendimento vamos ao encontro de outra questão
importante, ou seja, respeitar e conhecer os valores de outras culturas não
implica necessariamente em adotá-los, e aí esta a função da escola de
transmissão cultural, e da Educação Física de tratar da cultura de movimento,
pois ela deve, ao invés de priorizar determinadas manifestações, tratar da
maior diversidade possível, possibilitar uma gama muito variada de
experiências.
E, por último e um dos
fatores de grande relevância de promover-se uma educação intercultural, é que é
justamente a diversidade cultural que enriquece os indivíduos, possibilita que
os sujeitos construam suas ações e transformam-se de acordo com as experiências
dos outros sujeitos, já que, como considera Geertz (1989), somos seres
inacabados, que nos completamos através da cultura em constante transformação.
Contudo, a estrutura e
desenvolvimento de uma proposta com base na interculturalidade é complexa e
exige uma boa base, ou seja, conhecimento dos professores atuantes, para que
estes possam realizar seu trabalho e alcançar seus objetivos num processo onde
os alunos envolvidos compreendam o que e porque estão agindo de uma forma e não
de outra. E este, é um processo a longo prazo que exige interesse, dedicação e
planejamento.
Considerações finais
Educação e cultura(s), em
nosso entendimento são questões a ser discutidas e ressignificadas no espaço
escolar, haja visto que, com a incorporação de um currículo monocultural,
transmitindo/impondo valores de uma cultura hegemônica, os alunos estão
perdendo cada vez mais sua criatividade e criticidade.
Havendo a necessidade de um
planejamento e uma reestruturação das formas de agir na educação, onde os
conteúdos estejam adequados a realidade vivida pelos alunos e os objetivos de
formação estejam conectados com a necessidade de formar sujeitos capazes de
entender e viver num mundo marcado pela diversidade, é que acreditamos na
necessidade de buscar subsídios na perspectiva intercultural para orientação
das práticas educativas.
Através dessa perspectiva,
a qual está embasada nos princípios e eixos norteadores apresentados,
acreditamos na possibilidade de contribuir na formação dos alunos e suas
possibilidades de agir no mundo como sujeitos emancipados. Contudo, este é um
processo a longo prazo que deve ser incorporado desde a formação de
professores, pois não se trata de incluir mais uma disciplina no currículo, ou
organizar programas eventuais dentro do espaço escolar. E isso, exige
conhecimento, interesse, dedicação e planejamento por parte dos professores,
saindo da limitação das práticas tradicionais, descontextualizadas, sem sentido
e significado para uma formação autônoma, critica e criativa, uma efetiva formação
cidadã.
Nota
1. Utilizamos
o termo competência social aqui referindo-se às condições necessárias para o
sujeito agir no seu mundo de forma autônoma, crítica e efetiva, buscando a
superação do dado e das estruturas conservadoras que o mantém num estado
passivo de contemplador das situações desiguais de vida.
Referências
·
BARBOSA, C. L. A. Educação
Física Escolar: as representações sociais. Rio de Janeiro: Shape,
2001.
·
CANDAU, V. M. (Org). Reinventar
a escola. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
·
______ (Org.). Sociedade,
educação e cultura(s): questões e propostas. Petrópolis, RJ: Vozes,
2002.
·
FLEURI, R. M. Desafios a educação intercultural no
Brasil. Florianópolis, 1999. Lecturas Educación
Física y Deportes, Revista Digital. Disponível em:
http://www.efdeportes.com. Acesso em 27 fev. 2005.
·
______. Intercultura e Educação. Revista Brasileira de Educação, nº
23, maio/ago, p. 16-35, 2003.
·
FORQUIN, J. C. Escola
e cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento
escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
·
FREIRE, P. Educação
como prática de liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1996.
·
______. Pedagogia
da autonomia: saberes necessários a prática educativa. 11 ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
·
______. Pedagogia
do Oprimido. 14 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
·
GEERTZ, C. A
interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
·
PÉREZ GÓMEZ, A. I. A
cultura escolar na sociedade neoliberal. Poro Alegre: Artmed,
2000.
Fonte:http://www.efdeportes.com/efd111/escola-e-culturas.htm
Comentários
Postar um comentário