A ESCOLA DO FUTURO INCLUI HABILIDADES SOCIOEMOCIONAIS E EMPREENDORISMO


O que a escola do futuro precisa ter?


Maria Carolina Mariano, especial para o portal Mais Educação
Co-founder e diretora de inovação da Casa Fundamental

Sei que talvez essa não fosse a resposta esperada por muitos dos leitores. Talvez, a expectativa girasse em torno de robótica ou linguagem de programação ou, talvez, bilinguismo, ou metodologias ativas. Não é uma novidade a urgência de que os processos educacionais precisam ser repensados.
A revolução tecnológica que vemos em curso nos faz deparar com uma realidade em que a única garantia que temos é a da mudança. Habilidades socioemocionais, não apenas aquelas tecnocráticas, são – finalmente! – entendidas como cruciais no contexto educacional. Robustas pesquisas científicas nos dão uma dimensão mais profunda sobre como os processos de aprendizagem acontecem. E o mercado de trabalho começa a questionar a necessidade de um diploma de ensino superior para comprovar habilidades técnicas. 
Contudo, é inevitável que as escolas se transformem!
E essa transformação precisa ser sustentada por valores.
Consciência e coerência pedagógicas, ética, respeito, dignidade, construção para a justiça e para a paz. Com isso estabelecido, aí sim, um novo passo pode ser dado. Um olhar profundo sobre outras metodologias é urgente. E a certeza de que um intenso estudo sobre como essas novas metodologias servirão às escolas é preciso. Tudo porque escolas são únicas! E precisam ser autenticamente cuidadas como espaços sagrados.
Precisamos construir, no Brasil, escolas do futuro! Mas, isso precisa ser feito sem fanatismos por soluções coloridas que enchem de confete nossas escolas, que apenas pintam estruturas que precisamos deixar para trás.
As escolas do futuro precisam cuidar responsiva e responsavelmente de gente no presente.

Habilidades socioemocionais e o papel da escola

Anna Paula Jorge Jardim, especial para o portal Mais Educação
Psicopedagoga e vice-diretora do Colégio Nossa Senhora das Dores

Quando pensamos na importância da escola para a formação de crianças e jovens é muito comum levarmos em consideração alguns elementos como alfabetização adequada, o ensino da matemática e da física, o aprendizado de uma segunda língua e a preparação para os exames externos. 
É claro que tudo isso é muito importante e deve ser uma preocupação constante de pais e educadores. Afinal, uma formação sólida é fundamental para que o jovem tenha boas oportunidades na profissão que deseja seguir.
Porém, temos observado que a educação vem evoluindo ao longo dos tempos e novas demandas vão surgindo – o que leva as escolas a repensarem seus currículos e enfrentarem desafios muito mais complexos. 
Se, no começo do século XXI, o que chamou a atenção foi a ampla informatização e preocupação com a tecnologia, percebemos que agora há uma grande preocupação em trabalhar com os jovens as habilidades que desenvolvam competências socioemocionais como o autoconhecimento, a liderança, a empatia, o trabalho em equipe, o empreendedorismo. Nesse sentido, também é dever da escola compreender essas temáticas e levar isso para a sala de aula.  
Trabalhar as habilidades socioemocionais é vantajoso não apenas na formação humana, mas também profissional. Estudo do World Economic Forum (WEF) declara que serão criados 133 milhões de empregos até 2025. Além disso, 35% das habilidades mais demandadas para a maioria das ocupações deve mudar em 2020.
Ou seja, diferentemente das gerações anteriores, mais do que o conhecimento em português, matemática, física e química, o que já está sendo demandado dos novos profissionais são habilidades e qualificações como iniciativa, criatividade, pensamento crítico, persuasão, negociação, resiliência, cooperação e flexibilidade. 
Dentro das habilidades socioemocionais podemos destacar o desenvolvimento da Comunicação Não Violenta (CNV), que pode ser definida como um método comunicativo desenvolvido por Marshall Rosenberg, um psicólogo americano da década de 1960, que consiste em utilizar técnicas eficientes de comunicação para cuidarmos da saúde dos relacionamentos e implantarmos a cultura da paz em qualquer ambiente. Como educadores, podemos usá-la para estimular que venha à tona o que há de melhor em nossos alunos. 
Numa sala de aula, exercitar a CNV é favorecer o crescimento das crianças e adolescentes em relação ao autocontrole, ao desenvolvimento da empatia, do espírito de equipe e do respeito às diferenças. A CNV baseia-se em habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas. Ela não apresenta nada de novo, pois tudo que foi integrado à comunicação não-violenta já é conhecido. O objetivo é justamente nos lembrar do que já sabemos – de como deveríamos nos relacionar uns com os outros de forma pacífica. 
A CNV é uma forma de exercitar o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade dos indivíduos.
Quando ensinamos as crianças a resolverem seus conflitos, escutando opiniões divergentes e compreendendo a visão do outro, estamos trabalhando o desenvolvimento dessa competência e criando cidadãos e profissionais melhores para o mundo.  

Escola de BH oferta aulas de empreendedorismo e habilidades socioemocionais


Disciplinas vão trabalhar temas como educação financeira, comunicação não violenta, sustentabilidade e empatia

Com o advento de novas tecnologias, a globalização e as novas tendências no mercado de trabalho, as instituições de ensino têm se preocupado cada vez mais em diversificar sua grade curricular e potencializar a formação dos seus estudantes.
É o caso do Colégio Nossa Senhora das Dores, em Belo Horizonte, que já oferece atividades complementares como robótica, circo e atividades de pastoral estudantil. Para 2020, a grande novidade será a oferta uma nova disciplina para o Ensino Fundamental: Empreendedorismo e Habilidades socioemocionais.  
 
“Habilidades socioemocionais são aquelas relacionadas com a nossa capacidade de lidar com as emoções e a forma como nos relacionamos socialmente. Estas se refletem na forma como convivemos com as outras pessoas, aprendemos a nos conhecer, aprendemos a respeitar o outro e a conviver com as diferenças. É fundamental que nossos alunos exercitem essas habilidades, para que se tornem pessoas diferenciadas, capazes de zelar pelo próprio bem estar e pela convivência coletiva e pacífica”, explica Anna Paula Jorge Jardim, psicopedagoga e vice-diretora do Colégio Nossa Senhora das Dores. 
Para ela, a era em que estamos vivendo requer que os profissionais sejam capazes não apenas de aprender, mas possuir autoconhecimento para que consigam desenvolver todas as suas potencialidades. 
“As atividades repetitivas serão cada vez mais realizadas por máquinas e inteligência artificial que vão nos proporcionar um novo universo de informações para a tomada de decisão. Só conseguiremos adotar esta tecnologia e usufruir dos benefícios que ela traz se desenvolvermos novas habilidades como a inteligência emocional, o pensamento crítico, as soluções de problemas complexos, entre outras. Para isso, ampliar os horizontes para novas possibilidades de aprendizagem é fundamental”, garante. 
 
Outro ponto a ser desenvolvido com os alunos é a capacidade empreendedora. “Queremos estimular o aluno a compreender que o ato de empreender é agregar valor, saber identificar as oportunidades, planejar e agir para transformá-las em algo positivo e/ou lucrativo”, diz.
Anna explica ainda que a nova disciplina será trabalhada por meio de projetos interdisciplinares, em equipes e com a utilização de recursos que promovam a ludicidade, como jogos de tabuleiro, games, dinâmicas, brincadeiras, ferramentas tecnológicas, elementos simbólicos, literatura, contação de histórias, filmes e outros. 

Comentários